Imagino que, neste instante, o senhor Henrique Miguel, mais conhecido como “Riquinho”, deva sentir um orgulho silencioso e profundo.

Confesso que não conhecia este jovem. Porém, ao iniciar o jogo da nossa selecção, algo nele se destacou – uma diferença subtil, mas inegável. Para minha surpresa, soube que se tratava do filho do renomado empresário Riquinho. A revelação trouxe uma reflexão inevitável: em Angola, estamos habituados a ver jovens sem mérito algum ocupando lugares de privilégio, sustentados apenas pelo peso do sobrenome e não pela grandeza do talento.
Mas aqui, diante de nós, surge um exemplo que quebra esse ciclo viciado de nepotismo que há muito intoxica a nossa realidade. Selton Miguel não aparece apenas como “filho de…”, mas como aquele que, pelo seu desempenho, prova que o legado pode também ser traduzido em mérito, e não apenas em herança.
Talvez estejamos perante um sinal, um lembrete de que o futuro se constrói não apenas com nomes herdados, mas sobretudo com feitos conquistados. A grandeza não reside no privilégio, mas na capacidade de o transformar em valor real para a colectividade.
Ao contrário de muitos casos conhecidos em Angola em que filhos de figuras influentes apenas ocupam posições pela ligação familiar e acabam por fracassar ao primeiro teste de mérito, Selton Miguel rompe esse padrão. O seu percurso mostra que o apelido abre portas, mas não sustenta carreiras.
O que sustenta é consistência, rigor competitivo e capacidade de melhorar continuamente. Há inúmeros exemplos no país em que nomes “pesados” desapareceram da esfera pública tão rápido quanto surgiram, porque lhes faltou rendimento real e é justamente esse contraste que torna o caso de Selton ainda mais expressivo. Ele permanece em ascensão não por ser “filho de”, mas por entregar resultados que seriam reconhecidos em qualquer geografia: técnica apurada, inteligência de jogo, disciplina emocional e impacto visível dentro da equipa.
Esse desempenho acaba por ter um efeito indireto sobre a narrativa social. Quando um caso como o dele dá certo, desmonta o argumento simplista de que todo sucesso de alguém ligado a uma família influente é fraude por definição. Selton mostra que é possível coexistir origem privilegiada com mérito materializado.
Em vez de reproduzir o ciclo do “cargo sem competência”, ele simboliza a possibilidade de reverter o estigma: provar na prática que talento e trabalho pesado podem falar mais alto que a suspeita social, mesmo num ambiente onde o nepotismo já desgastou a confiança pública. Por isso o seu nome tende a permanecer, enquanto tantos outros sustentados apenas pelo sobrenome foram engolidos pelo tempo e pelo fracasso.
Parabéns, Selton Miguel. Que o teu exemplo inspire outros a mostrar que o talento, quando aliado à oportunidade, tem a força de contrariar até os vícios mais enraizados da nossa sociedade.
Por: Albertoh Satírico
