
A recente saída de certos membros da Frente Patriótica Unida (FPU) trouxe à tona um velho mal da política nacional: a ingratidão. Quando praticada por quem deveria estar a serviço do povo, a ingratidão não é apenas uma falha moral — é um sintoma de desvio de caráter.
Políticos comprometidos com as causas populares não renegam suas origens nem abandonam os projetos que os ergueram. Como lembra um velho princípio: quem esquece de onde veio, jamais saberá para onde deve conduzir os outros. A perda de conexão com as raízes é, muitas vezes, o início da derrocada ética e política.
Prometer é fácil; cumprir é raro. O povo não se alimenta de palavras, mas de ações concretas. E nesse sentido, promessas vazias são como pratos cheios de vento.
Outro equívoco recorrente é esquecer que o poder é temporário. A cadeira do poder é emprestada, e quem nela se senta deve lembrar que o verdadeiro dono é o povo. A história mostra que políticos ingratos podem até se safar por um tempo, mas não por muito. Eventualmente, a consciência coletiva cobra a fatura.
A gratidão, por sua vez, é filha da consciência. Quem trabalha pelo bem comum não precisa forçar reconhecimento — será lembrado naturalmente pelas marcas que deixou.
Nesse contexto, a saída de certos elementos da FPU não representa uma perda, mas um recomeço. Pode ser, na verdade, o passo necessário para que a coligação se reestruture, livre das chamadas “caixas térmicas” — figuras opacas que tantas vezes deixaram o povo sem rosto e sem voz.
Para a FPU, este momento pode significar purificação, coesão e renascimento. E para os que saíram, fica a dúvida: que legado pretendem deixar?
Por Kamalata Numa
Luanda, 24 de Maio de 2025