
O Gabão virou a página da dinastia Bongo com uma vitória retumbante de Brice Oligui Nguema nas eleições presidenciais realizadas no sábado. Segundo dados provisórios anunciados no domingo pelo ministro do Interior, Hermann Immongault, Oligui Nguema obteve 90,35% dos votos, consolidando-se como figura dominante da nova ordem política do país.
O resultado, embora esperado, levanta questionamentos: vitória legítima ou apenas uma validação do poder já assumido à força? Desde que liderou o golpe militar em agosto de 2023, que pôs fim a mais de 50 anos de governo da família Bongo, Oligui Nguema vem se apresentando como o salvador de um sistema político corroído pela corrupção e manipulação eleitoral.
O ex-primeiro-ministro Alain-Claude Bille–By–Nze, que ficou em segundo lugar, conquistou apenas 3,02% dos votos. Os outros seis candidatos não chegaram sequer a 1%. A margem expressiva de Oligui levanta dúvidas sobre o grau de competitividade do pleito, embora a sua popularidade seja visível entre os que viam na dinastia Bongo um regime estagnado e autoritário.
A eleição marca o encerramento formal da era Bongo, iniciada em 1967 com Omar Bongo e continuada por seu filho, Ali Bongo, até ser deposto em 2023 — justamente no dia em que se proclamava vencedor de eleições consideradas fraudulentas. O golpe liderado por Oligui foi recebido com entusiasmo por parte da população, cansada de décadas de domínio familiar.
A observação internacional, chefiada pela União Africana e composta por 50 membros de 24 países, acompanhou o processo eleitoral. A missão foi liderada pelo ex-primeiro-ministro são-tomense Patrice Trovoada, numa tentativa de conferir legitimidade internacional ao processo.
Resta saber se Brice Oligui Nguema será apenas mais um militar no poder ou se conseguirá transformar o Gabão numa verdadeira democracia. Por enquanto, o país parece ter trocado uma dinastia por um novo homem forte — com amplo apoio popular, mas sob olhar atento da comunidade internacional.
Fonte: NJ