
Segundo Albino Pakissi, a UNITA também “caminha só”. Lamento dizer, mas essa afirmação está longe da verdade. A UNITA, ao contrário do que se tenta fazer crer, não optou por um percurso isolado. Demonstrou coragem e maturidade política ao integrar outras forças políticas e sociais no projeto da Frente Patriótica Unida (FPU).
O senhor Pakissi sabe ou deveria saber que, o próprio PRA-JA Servir Angola, partido que hoje defende com fervor, fez parte desta frente unificada. A coligação incluiu também o Bloco Democrático e diversas vozes representativas da sociedade civil, como o respeitado Chico Viana, entre outros.
É legítimo, portanto, perguntar: a quem pretende enganar com tais declarações? Que interesse há em desinformar, distorcendo deliberadamente os fatos?
Os angolanos não querem entretenimento político. Já pagamos caro por palavras irresponsáveis e posturas inflexíveis de líderes que se esquecem do impacto real dos seus discursos. Muitos cidadãos humildes tombaram, vítimas de abusos alimentados por polarizações desnecessárias e manipulações retóricas.
A postura do senhor Pakissi parece visar à confusão, especialmente entre os mais vulneráveis à desinformação — os nossos irmãos que ainda vivem nas margens da informação, nas províncias esquecidas. Em nome deles, faço um apelo à responsabilidade. Que não se alimente ainda mais as divisões num campo opositor já marcado por profundas cicatrizes.
Ao senhor Abel Chivukuvuku, desejo saúde e discernimento. Mas tanto a ele quanto ao senhor Pakissi deixo um apelo sincero: não usem a UNITA nem o legado da FPU como plataforma de promoção pessoal. Não convertam essas estruturas em armas de ataque político.
A UNITA é uma força com história, estrutura e provas dadas. Compará-la ao novo e pequeno partido PRA-JA sem a devida contextualização é forçar uma equivalência que, no mínimo, desinforma. Não estamos todos misturados — mas somos todos filhos desta pátria. E Angola precisa de união, não de vaidades.
Análise: Seis pontos que desconstroem o discurso de Pakissi
1. A romantização perigosa da caminhada solitária: A ideia de que o PRA-JA deve seguir um caminho isolado pode parecer estratégica, mas ignora o contexto real. A fragmentação da oposição tem favorecido, historicamente, apenas quem detém o poder. Quem lucra com uma oposição enfraquecida?
2. Negação dos fatos recentes: Dizer que a UNITA também caminha sozinha é reescrever a história com um viés injusto. Foi a UNITA que arriscou a criação de uma frente ampla, incorporando partidos menores e personalidades independentes, incluindo o próprio PRA-JA.
3. Elitismo disfarçado de voz popular: O discurso de independência total pode soar como defesa do povo, mas muitas vezes revela um elitismo oculto. O povo clama por soluções, não por protagonismos fragmentados.
4. O perigo das palavras irresponsáveis: Num contexto social tenso, palavras têm consequências. A retórica divisionista de figuras públicas não fortalece a democracia — apenas aprofunda as feridas.
5. A tentativa de igualar desigualdades históricas: Comparar o PRA-JA à UNITA em termos de estrutura e história é desonesto. O respeito político se conquista com consistência, não com confrontos artificiais.
6. Um sintoma de um problema maior: Pakissi é apenas um exemplo de uma tendência preocupante: a da vaidade política que se sobrepõe ao interesse nacional. Enquanto egos se digladiam, o povo continua à espera de liderança firme e coesa.
Considerações finais
Angola precisa de unidade, estratégia e responsabilidade. Que cada voz pública esteja à altura do momento histórico que vivemos. O tempo da divisão já custou demais. Agora, é hora de reconstruir pontes — não de dinamitá-las.
Autor: Raul Diniz