
Muito se fala dos supostos benefícios alcançados com o fim do conflito armado em Angola, mas pouco se reconhece o custo humano e político que tornou possível a paz. A verdade é clara: a UNITA pagou um preço demasiado elevado para que Angola chegasse até aqui.
É importante recordar que a UNITA não nasceu como fruto de um capricho individual, mas no contexto da luta de libertação nacional. A sua missão foi levar a guerra de independência para o interior do país, enquanto outros movimentos fixavam os seus quartéis em Kinshasa e Brazzaville.
Foi por essa razão que a vertente armada da UNITA se tornou a sua maior força, chegando a constituir um verdadeiro exército de mais de cem mil homens, um “Estado paralelo” que desafiava a ditadura de partido único instalada em Luanda.
A transição desse exército para um partido político civil foi um processo doloroso, mas assumido com responsabilidade histórica. Entre as medidas adotadas destacam-se:
- A ordem para que oficiais generais e superiores depusessem as armas;
- O aquartelamento de mais de 150 mil efectivos e a sua desmobilização;
- O desarmamento total de todos os combatentes;
Um intenso processo de desmilitarização das consciências, tão eficaz que, passadas mais de duas décadas, não houve sinais de resistência armada nem tentativas de regressar à guerra.
Perante estes factos, questionar a boa-fé da UNITA no processo de paz é distorcer deliberadamente a verdade. O que hoje se observa é uma tentativa de manipulação política, associando a UNITA à instabilidade para ocultar as falhas de governação.
As dificuldades que Angola enfrenta – desemprego crescente, pobreza, colapso dos serviços públicos e corrupção sistémica – não são consequência da UNITA, mas sim da incapacidade de governar sem recorrer ao medo, à exclusão e à manipulação.
A paz não foi uma dádiva do governo, mas um sacrifício coletivo no qual a UNITA deu mais do que recebeu. Reescrever essa verdade histórica é insultar a memória dos que tombaram e trair os que acreditaram num futuro melhor.
Hoje, ao contrário de 1975 e 1992, apenas as instituições do Estado têm meios para beligerar. Não existe espaço real para um novo conflito armado. O que persiste é a tentativa de criar narrativas artificiais – como a associação forçada da UNITA ao “terrorismo” – para perpetuar o medo como instrumento de poder.
Angola não precisa de falsificadores da história. Precisa, sim, de líderes capazes de transformar o silêncio das armas em verdadeira paz social, justiça, democracia e desenvolvimento. O resto é apenas ruído de quem teme perder privilégios conquistados à custa do sofrimento do povo.