
Após longos anos de controvérsias, debates e revisões sobre o significado da reconciliação nacional, Angola testemunha, finalmente, um gesto simbólico e histórico: as condecorações póstumas de Holden Roberto e Jonas Savimbi, dois dos mais importantes protagonistas da luta pela libertação do país. A decisão vem encerrar um capítulo de negação e exclusão que, por muito tempo, marcou a narrativa oficial da independência.
No dia 15 de fevereiro, recordo ter partilhado, aqui mesmo, nas páginas deste espaço, o meu espanto e desconforto diante da decisão, então considerada irreversível, de excluir Holden Roberto e Jonas Savimbi das medalhas da Independência. Não se tratava apenas de um simples acto administrativo, mas de um sinal preocupante de que, mesmo depois de meio século de independência, a reconciliação nacional ainda não havia atingido a sua plenitude.
Aceitei, na altura, ser condecorado ao meu nível, não por vaidade, mas como gesto de respeito ao esforço coletivo de todos aqueles que contribuíram, direta ou indiretamente, para a libertação de Angola. Contudo, ao observar a lista de condecorados, percebi que algo fundamental permanecia errado: como é possível celebrar a independência sem reconhecer integralmente todos os seus pais fundadores?
Agora, com o gesto de reconhecimento aos líderes históricos Holden Roberto, fundador da FNLA, e Jonas Savimbi, líder da UNITA, abre-se uma nova página na história do país. Trata-se de um momento que ultrapassa as fronteiras partidárias e toca o âmago da identidade nacional. Afinal, estes homens, independentemente das divergências ideológicas e das consequências trágicas do passado, lutaram por um mesmo ideal: uma Angola livre e soberana.
É importante sublinhar que não censuro, como alguns fazem hoje, aqueles que, por razões políticas ou pessoais, se recusaram a receber condecorações num contexto em que a exclusão de figuras tão emblemáticas parecia uma afronta à justiça histórica. Cada gesto, naquela altura, representava uma forma legítima de protesto contra uma narrativa parcial e seletiva da libertação nacional.
O que deve ser questionado é por que motivo o país precisou de tanto tempo para reconhecer a verdade completa da sua história? A reconciliação, proclamada há mais de duas décadas, só pode ser autêntica quando acompanhada de gestos concretos, simbólicos e inclusivos. Condecorar Holden e Savimbi não é apenas uma questão política; é um acto de maturidade nacional, de reparação moral e de respeito pelas gerações futuras.
Ainda assim, acredito que este reconhecimento, embora significativo, não deve ser o ponto final, mas o início de uma nova etapa. É necessário que se realize um acto de maior solenidade e simbolismo nacional, que envolva todas as forças vivas da sociedade, para corrigir o modo unilateral como a independência foi proclamada e celebrada durante décadas.
Angola está a celebrar 50 anos de independência, e é tempo de se olhar para trás com coragem e lucidez. O futuro do país depende da capacidade de recontar a sua história com verdade e equilíbrio, sem manipulações ideológicas nem omissões convenientes.
Hoje, ao ver Holden e Savimbi finalmente reconhecidos como pais da Nação, sinto que, apesar da demora, um passo importante foi dado. É um momento de reconciliação com o passado, de justiça com a história e de esperança para o futuro.
Por: Marcolino Moco
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