
O Executivo angolano veio a público esta semana para desmentir categoricamente a existência de qualquer cessar-fogo ou conflito armado em Cabinda, ao mesmo tempo que acusou a UNITA de envolvimento em supostas “negociatas” com o movimento separatista FLEC-FAC. A resposta surge após o anúncio de uma trégua de 60 dias pela Frente de Libertação do Estado de Cabinda, considerado por Luanda como um teatro político sem fundamento real.
Segundo comunicado oficial, o Governo refutou ainda uma reportagem da Rádio Televisão Portuguesa (RTP), que noticiou o cessar-fogo, classificando a peça como “enganosa”, “maliciosa” e contrária aos princípios do jornalismo responsável. Luanda acusa o canal português de fabricar imagens e distorcer a realidade no enclave, promovendo o que chamou de “campanha sensacionalista” contra Angola, justo no ano em que o país celebra cinco décadas de independência.
No centro da controvérsia está a acusação dirigida à UNITA, apontada como interlocutora direta com o grupo independentista. Para o Executivo, o partido do “Galo Negro” procura instrumentalizar o conflito de Cabinda como forma de ganhar protagonismo político.
Por seu lado, a UNITA, através do seu responsável pela comunicação, Evaldo Evangelista, rejeita as acusações e reafirma que há um conflito real em Cabinda, que o Governo insiste em negar. “A nossa intenção é promover soluções duradouras para os cabindenses. O povo vê na UNITA um mediador válido”, declarou.
Enquanto isso, o anúncio de deserções em massa dentro da FLEC-FAC reforça as fragilidades internas do movimento. Esta terça-feira, mais de 200 alegados ex-combatentes anunciaram formalmente o abandono das fileiras, alegando péssimas condições de vida nas matas, falta de apoio logístico e desilusão com os líderes do grupo. “Já não queremos ouvir falar da FLEC. Fomos abandonados”, desabafou Martins Chincoco, antigo responsável pelas Operações Militares da facção.
A tensão entre os relatos de instabilidade e a narrativa oficial de tranquilidade revela uma disputa não apenas territorial, mas também política e mediática. A região de Cabinda permanece, assim, no epicentro de uma batalha de versões – entre apelos à paz, denúncias de manipulação e um povo que, entre promessas e armas, clama por soluções concretas.
Fonte: RFI